St. Vincent e o álbum mais ousado de 2021

St. Vincent e o álbum mais ousado de 2021

Abusos, prisão, violação, crime. Somente uma das artistas mais inovadoras das últimas décadas poderia transformar assuntos tão espinhosos em um dos melhores discos de 2021 – e, claro, forte candidato ao Grammy. Estou me referindo a St. Vincent e seu genial “Daddy’s home”, produzido por ela mesma e o hypado Jack Antonoff (reconhecido pelo trabalho com sua banda Bleachers, além de Lorde e Taylor Swift).

Oh no, you thought we had forgotten?
The show is only gettin’ started
The road is feelin’ like a pothole
Sit down, stand up, head down, hands up, and Pay your way in pain
You got to pray your way in shame (uh-huh)

Pay your way in pain – St. Vincent

Com letras que respingam deboche, redenção e dor, St. Vincent percorre, nas 11 canções de “Daddy’s home” uma imensidão de gêneros, que vão desde o pop modernoso que a consagrou, passando pelo country-rock, até chegar ao Motown e sons que marcaram época nos anos 70. St. Vincent, por sinal, cita em entrevistas o “jazz fusion” do Steely Dan como uma das maiores influências para a concepção do álbum.

St. Vincent na arte de capa de “Daddy’s home”

Mas o que certamente diferencia este trabalho dos demais da própria artista – bem como o de outras que surfam na mesma onda do empoderamento feminino, a saber Billie Eilish, Taylor Swift e Lorde – é o conceito por trás da maioria das canções, dedicadas ao seu pai.

Em 2010, o pai de St. Vincent foi preso por dar um golpe financeiro de US$ 43 milhões. Foram mais de 10 anos de sofrimento até que ele voltasse para casa. A cantora conta que chegou a mostrar as novas músicas para ele, que teve bom senso de humor para acatar versos como:

You hit me one time

Imagine my surprise

When you hit me two times

You got yourself a fight

I was a patsy

You were a creep from the cheap seats

Thinking that my little scratch was like your big victory

See?

But I’ll take you down, uh, huh

Down – St Vincent

Mas nem tudo é dor no novo álbum de St. Vincent. Na própria canção título “Daddy’s home”, ela relata com naturalidade e nostalgia que costumava dar autógrafos na fila de espera para visitar seu pai na cadeia.

I sign autographs in the visitation room
Waiting for you the last time
Inmate 502

Daddy’s home

Daddy’s home – St. Vincent

O sexto álbum da americana também é feliz ao recriar a atmosfera de uma Nova York vintage, que hoje só existe nos sonhos da autora. “Daddy’s Home reúne histórias sobre estar desanimado no centro de Nova York. O sapato de salto-alto da noite passada no trem matinal. Glamour que não se abala quando você passa três dias seguidos sem dormir“, ressalta St. Vincent, também conhecida como Annie Clark (ou seria o inverso?)

E você, o que achou do novo álbum da St. Vincent? Conta para nós aí nos comentários!

Marcos Tadeu

Marcos Tadeu

Jornalista, idealizador e apresentador do Rock Cabeça na 100,9 FM, Rádio Inconfidência FM (MG) desde 2016. Acima de tudo, um fã de rock gringo.