Moda e Música com Isa Menta: artistas x tiktok

Moda e Música com Isa Menta: artistas x tiktok

Oi, gente! Isa Menta aqui para apresentar mais um Moda e Música e hoje não vamos falar sobre moda, mas sim sobre um assunto que vem incomodando bastante os amantes da música e até mesmo os próprios artistas. Quem aí é da época de “Faroeste Caboclo”, “November Rain” e tantas outras músicas que ultrapassam os 7 ou 8 minutos (aqui, portanto, falamos dos chamados “millennials”), já notou que a indústria fonográfica passou por algumas mudanças no decorrer dos anos. Principalmente nos dias de hoje, com a Geração Z e o crescimento do TikTok, rede social que prioriza a postagem de vídeos curtos e diretos, pode-se dizer que as músicas diminuíram bastante seu tempo de duração.

Pesquisas apontam que a nova geração não consegue ou raramente ouve uma música que tenha mais de 3 minutos. Mesmo que tempo de duração não seja sinônimo de qualidade (ou da falta dela), a “audição ansiosa”, assim como alguns denominaram, veio de uma problemática que foi justamente o TikTok que gerou, além de alguns outros fatores, claro. Quem é usuário da rede, provavelmente já reparou na facilidade que se tem em viralizar. A plataforma permite ao público ganhar espaço e reconhecimento pelo mundo através de vídeos que geralmente não ultrapassam os 3 minutos. Estes, em sua maioria, além das dublagens, são de dancinhas e passos bem característicos do aplicativo para músicas que se tornam virais por lá.

O fácil acesso a qualquer conteúdo, por mais que permita a todos nós conhecer novos artistas, trouxe consigo alguns problemas. Basta ficar 10 minutos no aplicativo que qualquer pessoa consegue notar o mesmo trecho de música passando em diversos vídeos iguais de dancinhas ou afins. E por mais que você nunca tenha pegado para escutá-la de fato, você vai saber cantar pelo menos uma parte dela. Além de serem letras projetadas para se tornarem um “chiclete” na mente de quem ouve, mesmo que por poucos segundos, as dancinhas com passos limitados e genéricos para praticamente todas as músicas fazem com que em qualquer lugar que aquela canção toque, elas sejam lembradas e reproduzidas. Mas, até que ponto isso é benéfico para os artistas? Sem dúvidas, o TikTok emplacou muitos sucessos e trouxe para diversos cantores um reconhecimento gigantesco. Recentemente, a artista Marina Sena ganhou visibilidade através de sua música “Por Supuesto”, assim como a banda Jovem Dionísio estourou com o hit “Acorda, Pedrinho”.

Acontece que a viralização dessas composições carrega uma dualidade: ao mesmo tempo em que traz a possibilidade de o público gostar e assim procurar mais trabalhos do artista (servindo como uma espécie de ponte para seus outros lançamentos), a repetição massiva dessas canções faz com que elas possuam um “prazo de validade” na indústria. Escutar a mesma música em absolutamente todos os vídeos que você rola na página inicial faz com que ela fique saturada aos ouvidos do público e gere um efeito reverso nele. Enjoando rápido daquilo, logo o artista/música caem no esquecimento e assim, frequentemente podemos ver aquele famoso “artista de uma música só”, fruto do TikTok (“hitou” e a gente nunca mais ouviu falar dele). Às vezes, o usuário pega tanto “ranço” da música, que ele não se interessa em ouvir as outras composições do cantor ou cantora. E às vezes, o próprio cantor não aguenta mais performar aquela canção, por mais que faça parte também da profissão. A Marina Sena mesmo brincou em seu show no Lollapalooza pedindo para as pessoas viralizarem outra música dela (sua favorita), porque não aguentava mais cantar só “Por Supuesto”.

O outro problema vem quando os artistas não conseguem promover suas próprias composições sem que sejam pressionados por suas gravadoras a fazerem músicas virais e com potencial para o aplicativo. Assim, a duração de cada uma é reduzida para que se encaixe aos padrões do TikTok, com versos/estrofes em grandes repetições (como é o caso de “Batom de Cereja”, que viralizou há pouco tempo) e em sua maioria “simples”, só para viralizar e gerar dancinhas pela rede social. A própria Anitta já reclamou disso na internet. Embora seja uma ótima estratégia de marketing lançar uma música assim na plataforma, mais do que nunca, os artistas começaram a ficar reféns disso e a liberdade de criação ficou restrita.

Mesmo os cantores internacionais têm sentido essa mudança. Halsey criticou no próprio TikTok a atual exigência das gravadoras através da seguinte frase: “Eu estou nesta indústria há oito anos, vendi mais de 165 milhões de discos e minha gravadora está dizendo que eu não posso lançar a menos que eles possam inventar um momento viral no TikTok“. Ed Sheeran, autor de vários sucessos no mundo pop, publicou um vídeo tocando sua música de fundo enquanto comia um salgadinho e escreveu: “quando você deveria divulgar sua música, mas você apenas quer muito comer um salgadinho e então decide que comer um salgadinho pode ser uma divulgação para sua música porque todo mundo ama salgadinhos”.

Dentro do rock, artistas como Mike Shinoda (Linkin Park) e Oliver Sykes (Bring Me to the Horizon) também demonstram estar cansados da “tiktokização” do meio. “Todo artista com quem converso tem esse sentimento (de cobrança por conteúdo em redes sociais). Eles dizem que estão passando tempo demais fazendo pequenos vídeos para impulsionar suas carreiras, mas eles queriam passar mais tempo tocando suas músicas. Como esperar de um jovem artista que ele passe tempo o suficiente ficando bom em sua arte quando ele precisa alimentar todos esses canais de conteúdo? O tempo gasto gerando conteúdo bobo pode estar custando a eles a melhor música que nunca escreveram.”, disseram eles.

Com o Big Three (ou seja, a Warner, Sony e Universal) representando dois terços dos sucessos e da receita da indústria musical, os artistas se veem numa sinuca de bico para entrarem na ditadura do aplicativo. Nesse meio onde as músicas sofrem a imposição de uma condição para serem lançadas com dancinhas já prontas para estrategicamente viralizarem no TikTok, qual a sua opinião sobre isso? Os artistas realmente se limitaram? É bom ou ruim para eles? A qualidade das composições caiu? Me conta lá no instagram @isaamenta! Eu sou a Isa Menta e esse foi mais um Moda e Música (dessa vez, sem moda) e espero que tenham gostado! Obrigada e até a próxima!

Ouça novamente a coluna Moda e Música da Isa Menta

E no duelo entre tiktok e artistas fonográficos, quem você acha que leva a melhor? Diga nos comentários!

Isabella Menta

Isabella Menta

Isabella Menta (ou só Isa) é mineira, designer de moda e bacharel em ciências humanas, atualmente cursando ciências sociais na UFJF. Apaixonada por moda desde cedo, decidiu unir dois universos até então distintos (mas que se complementam) através do quadro Moda e Música, trazendo histórias, curiosidades e indicações.