Taylor Swift no purgatório da beleza e do caos

Taylor Swift no purgatório da beleza e do caos

Depois de conferir o segundo show da The Eras Tour, realizado no domingo (19), no Estádio Nilton Santos, no Rio de Janeiro, parafraseio os versos de Long Live, para afirmar que sim, com certeza tive um dos melhores momentos da minha vida. Realmente vivi a frase “I had the time of my life with you” ao longo das três horas e meia do espetáculo tão deslumbrante preparado por Taylor Swift. Porém, essa mesma felicidade que senti não foi compartilhada como deveria com todos os fãs que foram ao Engenhão com um único propósito: ver de perto a artista que tanto admiramos.

Foram onze anos até que Taylor voltasse ao Brasil e a espera finalmente acabou com a chegada da tão épica The Eras Tour. A turnê que celebra toda a carreira de Taylor iniciou a leg brasileira na capital carioca nos dias 17 a 20 de novembro, datas que vieram a se tornar um turbilhão de acontecimentos extremos, indo de momentos incríveis de celebração ao completo caos.

A trajetória de Taylor em terras brasileiras, que começou tão excitante para todos os swifities, com direito a uma homenagem de boas vindas projetada no Cristo Redentor, tomou um caminho de tragédias inimagináveis. A primeira delas, e a que vem fazendo mais barulho obviamente, foi a morte da fã Ana Benevides. Vítima de uma fatal parada cardiorrespiratória, Ana chegou a gravar no celular vídeos em que reclamava da forte onda de calor que atingia a sensação térmica de 59,3 graus centígrados para quem estava dentro do estádio do Botafogo.

Mesmo com o calor extremo, a T4f, produtora responsável pelo evento, ainda dificultou a situação dos fãs que literalmente torravam na fila. A entrada de garrafas de água e alimentos no estádio não foi flexibilizada, provavelmente para que a comercialização interna desses produtos fossem a única opção para o público se reabastecer. E os preços estavam fora da curva: pagar 10 reais em 250 ml de água até pareceu uma brincadeira de mau gosto, mas foi a realidade.

Ainda segundo os relatos de outros fãs que ficaram na pista, havia pouquíssimos pontos de distribuição da água (que já estava em temperatura morna). Para completar, o ar circulava com dificuldade pelos tapumes que foram instalados no estádio para dificultar a visão de quem estava de fora. Condições insalubres que, além da morte de Ana Benevides, certamente contribuíram para mais de mil desmaios apenas no dia do primeiro show, segundo relato do Corpo de Bombeiros.

Pronunciamento de Taylor Swift a respeito do falecimento de Ana Benevides foi feito logo após o primeiro show.

Já o segundo dia de apresentações, no sábado (18), teve de ser adiado para a segunda-feira (20), por decisão de Taylor e T4f a partir das condições climáticas instáveis. Com isso, mais uma vez, a expectativa de tantos outros fãs foi arruinada, já que muitos não teriam condições de remarcar suas passagens e hospedagem. Um deles, inclusive, foi morto com 23 facadas enquanto descansava na praia de Copacabana após um dia de perrengue sem ver sua ídola.

De era em era, um grande espetáculo

Mesmo em meio à desordem e frente a tantos problemas criados pela t4f, além da insegurança no entorno do estádio com registro de arrastões e ganância generalizada (taxistas cobravam até R$ 500,00 por uma corrida para o Engenhão “no tiro”), Taylor Swift, profissionalíssima, entregou aos fãs dos primeiros três shows da leg brasileira apresentações impecáveis. A expectativa e toda a espera são altamente compensadas com o passeio que Taylor faz pelas dez eras de sua carreira.

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Chega a ser difícil fugir do clichê ao analisar toda a produção que Taylor e sua equipe fizeram para essa turnê que tem tudo para ser uma das mais icônicas de todos os tempos. Eu, swiftie há mais de dez anos e contando, me emocionei e me empolguei com cada momento do show mesmo já sabendo de cor e salteado a ordem que as apresentações se seguiam.

Intro + Miss Americana and the Heartbreak Prince
Love Story
Long Live

É claro que ainda tem aquele gostinho de ansiedade e expectativa para experimentar vários outros detalhes que parecem bobos mas que para os fãs significam muito. “O que será que a Taylor vai conversar com a gente?”, “qual serão os figurinos que ela vai usar a cada ato?” e “quais músicas surpresa ela vai cantar hoje?” foram as perguntas mais ouvidas enquanto esperávamos pelo relógio de contagem regressiva.

Faço aqui uma menção honrosa ao bloco acústico da turnê com as “surprise songs” que foram escolhidas por Taylor para o domingo (19). Dancing with our hands tied foi a música tocada no violão e que levou fãs de volta à era “Reputation”. Enquanto todo o Engenhão gritava os versos, pensei na escolha feita por Taylor de cantar uma canção que fala sobre permanecer junto de alguém mesmo em face de problemas e maus pressentimentos. Depois da série de acontecimentos ruins no primeiro fim de semana da The Eras Tour no Brasil, ainda sim, todos permaneceram juntos de mãos atadas.

“Eu, eu te amei apesar de
Medos profundos de que o mundo nos separaria
Então, querido, poderíamos dançar
Oh, em uma avalanche? E
Diga, diga que iremos resolver
Eu sou uma bagunça, mas sou a bagunça que você queria
Oh, porque é gravidade
Oh, te mantendo comigo”

– Taylor Swift

A segunda música surpresa foi Bigger Than The Whole Sky no piano. A canção em questão é do álbum “Midnights” e fala sobre o adeus, o luto e a tristeza profunda de perder alguém. E aqui, diante de todos os acontecimentos, para um bom entendedor, a interpretação destes versos basta.

“Adeus, adeus, adeus
Você era maior do que todo o céu
Você foi mais do que apenas um curto período de tempo
E eu tenho muito o que lamentar
Eu tenho muito o que viver sem
Eu nunca vou conhecer
O que poderia ter sido, teria sido
O que deveria ter sido você
O que poderia ter sido, teria sido você”

– Taylor Swift

No fim de todo o show, senti que as três horas e meia de apresentações voaram e assim como eu, muitos fãs não queriam sair do lugar, ainda processando tudo o que tínhamos contemplado. Das performances às interações de Taylor com o público, das transições e efeitos visuais de era para era, dos dançarinos e banda… Completando toda a experiência mágica que os shows da Taylor Swift nos proporcionam, há a tão amada troca de pulseiras da amizade entre os fãs.

Este é um momento tão único que vale a pena ser mencionado pela simplicidade e carinho que existe no ato de confeccionar os braceletes, seja com letras de músicas ou piadas internas no fandom, e depois trocar com as pessoas nas filas e arquibancadas. Até mesmo funcionários do evento, de hotéis e de transportes pelas ruas do Rio de Janeiro foram presenteados pelos swifties com as friendship bracelets. Todos esses aspectos resultam no espetáculo chamado The Eras Tour.

A passagem de Taylor Swift pelo Brasil ainda não acabou. Nos próximos dias 24, 25 e 26 será a vez de São Paulo. E os dedos já estão cruzados para que a estadia da loirinha siga sem mais situações lamentáveis e para que os fãs, assim como eu, tenham uma das noites mais especial de suas vidas na companhia de Taylor e de boas amizades.

Ana Luiza Pereira

Ana Luiza Pereira

Jornalista em formação pela PUC Minas. Apaixonada pelo universo dos esportes e da cultura pop, mas que também adora um bom rock n’ roll. Trabalha principalmente com o futebol, mas nas horas vagas adora se jogar e se aventurar no mundo da música, dos filmes, livros e séries de TV.