Guns N’ Roses (faz chover) em Belo Horizonte, Dua Lipa se achando e o fim da era tiktoker

Guns N’ Roses (faz chover) em Belo Horizonte, Dua Lipa se achando e o fim da era tiktoker

Faz um bom tempo que não animo de escrever sobre temas relacionados a Rock in Rio. Até porque nesta edição tivemos a credencial da Rádio Inconfidência, emissora pública mais longeva de Minas Gerais, negada pelo festival no qual Anitta afirma – com razão – nunca mais botar o pé em face da diferença de tratamento entre artistas gringos e brasileiros (sugiro que assistam doc’s que mostram que a treta é antiga, e já envolveu desde Herbert Vianna até o Skank).

Pelo visto, não são só os artistas que são vítimas do descaso e do preconceito, também veículos tradicionais e o Rock Cabeça, há quase 7 anos no ar, abrindo espaço para artistas iniciantes que, inclusive, o Rock in Rio só abre mediante cotas. O foco da cobertura eram canais de tiktokers que supostamente têm mais a ver com música, como é o caso de vários ligados à viagens e gastronomia, bem como stand-up, entre outros que com certeza fizeram uma ampla e diferenciada cobertura jornalística.

Deixando a lacração para quem vive dela, bora para um resumo sorvido a ódio e álcool, em meio a madrugadas soníferas tendo que aguentar os comentaristas do Multishow com alcunhas esquisitas. Preparados para o que este blogueirinho tem a dizer?

Os melhores do Rock in Rio 2022

Não, não vou começar falando de Coldplay. Simplesmente porque não sei o que a galera andava fazendo quando a banda implementou pela primeira vez as suas pulseirinhas brilhantes por aqui, na tour de “A Head full of Dreams” em 2016. Ah sim, tava todo mundo na rua de verde e amarelo apoiando o golpe contra a Dilma, né? Olha no que deu…. Enfim. Coldplay no palco não traz nenhuma novidade além do êxtase total: é como andar de montanha russa sem sair do lugar. O grande problema é que os shows melhoram em inversa proporção aos discos. Mas quem é que tá ligando pra música numa hora dessa?

O melhor do Rock in Rio, assim, disparado, até mesmo de forma humilhante para os demais escalados, foi Green Day. Curto e grosso. Foram lá e deram o recado. Um set list em que até a mais desconhecida era um hit menor. Uma banda que sabe se servir da raiva juvenil para fazer um show que certamente deixou boa parte do público que estava ali pra assistir Billy Idol com as juntas doloridas.

Também ganha destaque Post Malone, numa demonstração de que para ser rock star basta simpatia, entrar no palco de pijama, munido de copinho e cigarro, para dominar a plateia. Deu até vontade de tatuar um “Always tired” na cara também. Inesquecível o Maneskin, que não se deixou intimidar pelo gigantismo do evento tal como Dua Lipa, botando seus poucos hits a serviço do povo brasileiro, e Camila Cabello, que por mim já ficava pra tomar um café lá em casa, com pão, leite e brigadeiro. Por fim, Avril Lavigne, enclausurada no Sunset depois de dar ghosting no Medina, mostrando que morreu mas passa sempre muito bem.

Os piores do Rock in Rio 2022

Aqui vai faltar linha para tanto insulto, concordam? É que não existe Rock in Rio sem artista picareta, do tipo contratado por número de seguidores. Opa, mas essa não é a forma de conseguir uma credencial no evento? Deixa pra lá….

Não vi e não gostei, aliás, deixei de gostar: Dua Lipa. Esse tipo de estrelismo que visa garantir uma “melhor qualidade” de imagem na transmissão ao vivo tão somente para que outros promoters não achem ruim de desembolsar mais milhões de dólares em um contrato coloca o fã, espectador no papel de idiota. Dua Lipa tem ótimas músicas, voz marcante, sabe fazer pop. Mas é tão oca quanto os milhões de produtores de conteúdo que a seguem. É apenas uma imagem que, vez em quando, chora em cima do palco e necessita de edição antes de ser vendida ao públi….ops, showbiz. Não aprendeu absolutamente nada com Madonna.

Pelo menos mais autêntica que ela foi Demi Lovato. Arrolada para o mesmo dia do Justin Bieber como forma de sossegar os pagantes à espera do ovo das galinhas de ouro desta edição. Músicas genéricas, com uma vocalista sem carisma que, de tanto desconforto, parecia ter acabado de tomar uma dose de benzetacil. Não fosse a presença de palco da ex-guitarrista do Alice Cooper, Nita Strauss, que no dia seguinte foi afogar as mágoas fazendo um jacarezinho em Copacabana, seria o maior fiasco da edição.

Por fim, a cereja deste grande bolo de merda: os tiktokers. Acredito que o chega-pra-lá dado a essa raça que se reproduz em áreas vips e camarotes por artistas como Avril Lavigne tenha contribuído para, senão fazê-los constatar a realidade de que são pagos para não fazerem nada (o que é difícil), pelo menos obrigar às marcas a repensarem sua postura antes de concederem verdadeiros cheques em branco a eles, com certeza gastos em botox, Shein, gim e cocaína.

Guns N’ Roses fazendo chover em Belo Horizonte

Existe um mantra por aí que consiste em desestimular qualquer pessoa a encarar um show do Guns N’ Roses nos dias atuais em decorrência da performance ruidosa embalada pela voz de “Mickey Mouse” do Axl Rose. Confesso que, de todas e tantas vezes que a banda passou por aqui, fui eu mesmo vítima deste mantra, concordando piamente que teria escapado do pior show da minha vida, e a tosse intermitente do cara no palco Mundo não ajudou.

Porém, o que eu vi no Mineirão neste 13/09/22 está bem mais perto de ser o melhor show da minha vida do que qualquer outra mega-produção em que já fui. Uma banda entrosada, afinada, com um set-list que escorria hits e um vocalista dando tudo de si em vez de apelar para o playback e caras e bocas (ainda que elas ainda sejam muitas e por vezes assustadoras).

Em primeiro lugar, são pouquíssimas super bandas de rock que hoje podem dizer que contam com a mesma devoção de fãs do que o Guns N’ Roses (alô, Iron Maiden). De repente o Mineirão se tornou um mar vermelho, uma espécie de jogo do Flamengo contra o Flamengo, em que pais traziam os seus filhos para passar à frente a paixão pelo time, ou melhor, banda do coração. E Minas que não tem mar, e tampouco vê uma chuva há mais de 3 meses, pode ir aos prantos durante a execução classuda de “November Rain”. No fim das contas, quem precisa de pulseirinha piscante quando se é um patrimônio da música mundial?

Marcos Tadeu

Marcos Tadeu

Jornalista, idealizador e apresentador do Rock Cabeça na 100,9 FM, Rádio Inconfidência FM (MG) desde 2016. Acima de tudo, um fã de rock gringo.