Pearl Jam em BH: o dia em que tudo parou

Pearl Jam em BH: o dia em que tudo parou

O primeiro show do Pearl Jam em BH vai ficar na memória dos mineiros. Infelizmente, não só pela performance imbatível dos caras no palco e da simpatia do front man anfitrião Eddie Vedder, mas pela sensação de que todos que estiveram no estádio do Mineirão em 20/11/2015 foram, direta ou indiretamente, lesados. Nem bem curou a ressaca das mais de 30 músicas do set list e acha que eu estou exagerando? Então leia este artigo e tire suas próprias conclusões…

Viagem ao inferno: chegando ao local do show

Talvez nem todos saibam – principalmente aqueles que vieram de fora para prestigiar o quarto show da turnê de “Lightning Bolt” no Brasil – mas Belo Horizonte padece de um prefeito verdadeiramente atuante há pelo menos 7 anos, embora a mídia paga (e encomendada) diga o contrário. E é especialmente nos períodos chuvosos que a incompetência do senhor Marcio Lacerda (PSB) literalmente transborda.

Apesar de inúmeras promessas, nenhuma obra de grande expressividade para conter as enchentes que, todos os anos, alagam pontos cruciais do trânsito de BH saiu do papel. Famoso por declarações infelizes, nosso Lacerda já chegou a afirmar que não era dever do poder público servir de “babá” dos cidadãos que, por algum infortúnio do destino, deixam de ler as placas de alerta espalhadas em pontos de enchentes da cidade: “em caso de chuva, evite este local”.

Tudo isso para dizer que, sim, poucas horas antes do show marcado para as 20h30min, uma chuva desabou sobre a capital mineira, justo no momento do rush. E mobilidade urbana, você pode imaginar, tampouco é um forte da atual administração municipal.

Resultado?

Quem deixou para se locomover até a região da Pampulha “em cima da hora”, dançou: não encontrou táxi, ficou atolado na Avenida Antônio Carlos, atreveu-se a ficar ensopado por horas a fio num ponto de ônibus ou acendeu uma vela para São Eddie Vedder pedindo que o show atrasasse alguns minutos.

Fora do Mineirão: desinformação até debaixo d’água

Como se não bastasse a jornada para chegar ao local do espetáculo, a entrada no Mineirão conseguiu ser ainda mais caótica, numa demonstração de que a (já multada por abusos em taxa de conveniência) Time For Fun e o poder executivo municipal podiam dar as mãos rumo ao quinto dos infernos.

Em primeiro lugar, ninguém tinha a menor ideia por onde entrar. Quem conseguia se desviar dos cambistas e suas promoções “queimão de estoque”, tentava prestar atenção ao que um ou outro fã mais espertinho dizia sobre portões de entrada principais. Guarda-chuva e sombrinha foram logo confiscados do lado de fora por terceiros, no que se configurou um verdadeiro comércio paralelo de objetos de uso pessoal. O jeito foi exercitar o desapego e comprar uma capa de plástico vendida a 5 reais que, debaixo da chuva torrencial, deixava todos com a aparência de preservativos humanos.

O trajeto até o portão de entrada foi tortuoso. Grupos de fãs iam e vinham com informações desoladoras. “É pra lá”, “Não, é pra cá”… Funcionários da organização do show? Zero. O jeito foi seguir o maior fluxo de pessoas. Até que, próximo à entrada C, uma multidão esperava em fila pela vez de entrar no estádio. 20h30min. Outra multidão, embalada pelos primeiros acordes do Pearl Jam no palco, tentava remover o labirinto de grades de ferro que levava ao portão de entrada das cadeiras superiores. Para evitar a arruaça, a organização decidiu afrouxar a fiscalização sobre os ingressos. Uma mulher na minha frente chegou a jurar que entregou a lista de compras do supermercado em vez do ingresso – e passou mesmo assim.

No Mineirão: “ir e vir” é para os fracos

O set list já ia lá para a terceira ou quarta música (sim, perdemos a versão inédita de “Rain”) quando ainda tentávamos subir os degraus dos setores internos do estádio. Obviamente, todo mundo tentou subir ao mesmo tempo, numa flagrante tentativa de subverter as leis da física. O pior é que, enquanto a massa subia, incautos desciam para pegar um chope ou ir ao banheiro, tumultuando ainda mais a passagem. Na escada, um funcionário da T4f permanecia tal qual estátua, vendo gente chorando e pisoteando umas as outras. Cheguei a questioná-lo: “Você não vai fazer nada não?”. No que ele, ameaçador, apenas respondeu: “O senhor se dirija ao show que veio assistir”.

Como sardinhas numa lata, chegamos a um lugar em que pudéssemos nos sentar e, finalmente, ver o que acontecia no palco. Para coroar a noite, o ângulo era ofuscado por uma das torres de som.  A péssima acústica do local fazia com que o Pearl Jam, a princípio, soasse como se estivesse dentro de um boombox. Mas, enfim, havia chegado ao esperado show! E, aos poucos, o som foi, de fato, melhorando, atingindo um grau de nitidez incrível a partir do set acústico da banda. Opa, acho que vou pegar uma latinha de Heineken por 10 reais. Sem chance. Não dava mais para se locomover, já que dezenas ocupavam a passagem para o bar.

A solução foi assistir tudo à seco e aproveitar o embalo da linda “Imagine” na voz de Vedder para pedir mais respeito de organizadores e autoridades.

Ah, sim, o show? Foi um dos maiores que a cidade já recebeu! Mas isso você provavelmente já sabia. Conte pra nós suas impressões nos comentários! 

Marcos Tadeu

Marcos Tadeu

Jornalista, idealizador e apresentador do Rock Cabeça na 100,9 FM, Rádio Inconfidência FM (MG) desde 2016. Acima de tudo, um fã de rock gringo.