Moda e Música com Isa Menta: Victoria’s Secret repaginada
Oi, gente! Isa Menta aqui para começar mais um Moda e Música, o quadro que reúne histórias, indicações e curiosidades dos dois universos no Esse Tal de Rock and Roll. Em meio às críticas envolvendo a falta de diversidade e o molde ultrapassado dos desfiles da Victoria’s Secret, a marca decidiu fazer uma pausa para realinhar sua imagem e valores e após 4 anos, anunciou o retorno de suas atividades no fashion show.
Com o título de “Victoria’s Secret The Tour ‘23” e disponível no Prime Video, o show ressurgiu no dia 26 de setembro totalmente repaginado, contando com filmagens na Colômbia, Inglaterra, Japão, Nigéria e Espanha. Se antes o visual era das passarelas super elaboradas com chão de glitter e muito glamour, agora, o evento ganhou uma atmosfera bem mais artística, com performances, truques visuais, entrevistas de modelos, músicos, designers e mais artistas como atração.
A grande diferença desse novo modelo está no fato de que o show não se concentra mais em um único desfile, mas sim, em vários. Envolvendo todos esses lugares, o intuito da nova produção foi dar destaque a 4 coleções de artistas-designers independentes que se inspiraram justamente em cidades desses países, lembrando muito o show promovido pela Rihanna no “Savage X Fenty”. Sob o comando de Gigi Hadid, Naomi Campbell, Taylor Hill e outras, o Victoria’s Secret The Tour contou também com uma gama bastante variada de modelos, que foi desde as mais diversas nacionalidades, até as mulheres mais velhas e com diferentes corpos, rebatendo toda a crítica que a marca vinha enfrentando ao ser acusada de sexismo, transfobia e gordofobia.
O novo formato deixou pra trás a maioria das “angels” que traziam a marca registrada do desfile, assim como as asas e o “fantasy bra”, o emblemático sutiã de luxo vendido por milhares de euros (ou até mesmo milhões) após os desfiles e usado por top models como Gisele Bündchen, Adriana Lima, Alessandra Ambrosio e Candice Swanepoel. Enquanto a maioria esteve presente no evento de 2023, Gisele acabou ficando de fora e participando apenas da campanha publicitária da marca, chamada “Icon”. Isso inclusive foi algo que despertou diversos comentários nas redes, já que Bündchen é uma das modelos de mais destaque em toda a história da Victoria’s Secret e esperava-se que ela fizesse parte do comeback, o que não aconteceu.
Basicamente, o desfile, que virou um documentário, se assim pode-se dizer, acompanha a história de 20 mulheres de várias partes do mundo que mostram os processos e a visão criativa por trás do desenvolvimento e execução das coleções. Em forma de monólogo na maior parte do tempo, a produção traduz as ideias pretendidas por trás de cada desfile. Um deles, é parcialmente submerso, realizado em Londres. O outro, apresenta modelos correndo em câmera lenta por um corredor de carros parados no trânsito, que acabou se transformando numa passarela. Em linhas gerais, o evento de 2023 mostra uma ressignificação da imagem da marca até mesmo em relação às passarelas, que até 2019 não sofriam fortes modificações. Outro ponto curioso é que as coleções não são mais voltadas ao underwear, ou seja, não são mais em torno das famosas lingeries da VS. As modelos vestem roupas normais, cobertas e com detalhes totalmente diferentes da identidade visual anterior. Agora, quem usa os sutiãs e calcinhas da Victoria’s Secret são as cantoras convidadas, como foi o caso da Doja Cat. O contraste do branding atual em relação ao antigo é evidente, já que agora as atrações se apresentam sozinhas em um cenário a parte e não mais caminhando na passarela junto as modelos.
A Victoria’s Secret vinha enfrentando problemas que iam muito além das acusações de sexismo, gordofobia e transfobia antes de anunciar sua pausa em 2019. Com o tempo, a marca, que antes era tradução de prestígio no mundo das modelos e tinha um show muito aguardado pelo público, se perdeu em meio às diversas polêmicas envolvendo o movimento #MeToo, que denunciava casos de assédio e abuso sexual em diversas esferas da sociedade, principalmente nos casos praticados por homens de alto poder. Nessa mesma época, foi descoberto que o CEO da empresa, Lex Werner, juntamente com o milionário Jeffrey Epstein, lideravam uma rede de tráfico sexual e abusos contra menores de idade, que eram oferecidas a pessoas de alto poder aquisitivo e status, como o príncipe Andrew, filho da Rainha Elizabeth II. Não demorou muito tempo para que mais situações viessem à tona.
De acordo com o New York Times, o diretor de marketing da Victoria’s Secret Ed Razek incitava uma cultura de misoginia, bullying e assédio ao sugerir que as modelos sentassem em seu colo, o acariciassem e beijassem ele contra a vontade delas. Tudo isso contribuiu para chegar no momento principal, ou seja, nos comentários acerca do molde ultrapassado do desfile. O criador das “angels”, que já havia sido demitido uns meses antes, declarou que o show era uma fantasia, portanto, não cabia mulheres plus size e trans, já que “fugiria da proposta”. A repercussão, claro, foi negativa e a marca foi entrando em declínio ainda mais, até chegar no momento do encerramento temporário de suas atividades.
Com as comparações crescentes ao show produzido pela Rihanna, a VS decidiu correr atrás do prejuízo e substituir as “angels” pelo que chamaram de VS Collective, ou seja, um grupo de mulheres embaixadoras das mais diversas causas, com idades, corpos e silhuetas variadas para levantar o nome da empresa novamente. Uma das envolvidas na escolha foi a modelo trans brasileira Valentina Sampaio.
Cabe agora ao público definir se foi um acerto ou não esse novo formato. Particularmente, achei que perdeu a essência do desfile e a inclusão poderia ter sido encaixada dentro do modelo de espetáculo que era produzido antes. É muito difícil repaginar algo que já é conhecido de uma forma bastante específica pelos amantes da área sem causar tanta ruptura, principalmente levando em consideração que a nova pegada é muito mais “cult” e esse não era exatamente o perfil do público que assistia os desfiles regados a glamour, glitter e descontração. O documentário é bem interessante do ponto de vista das 20 estilistas independentes. Acompanhar desde o desenvolvimento até o momento de lançamento das peças no show é uma experiência que agrega valor ao trabalho, assim como valoriza as mulheres da indústria e as jovens que estão por vir no ramo. Por outro lado, a diversidade que a marca tanto quis passar, ficou de certa forma “forçada”.
Ouça novamente a coluna Moda e Música que foi ao ar na Rádio Inconfidência:
E você, o que achou desse novo formato? Me conta lá no instagram @isaamenta, eu sou a Isa Menta e esse foi mais um Moda e Música reunindo histórias, curiosidades e indicações dos dois universos no Esse Tal de Rock and Roll. Obrigada e até a próxima!