Duo Chipa: do caipira ao eletrônico sem perder a ironia

Duo Chipa: do caipira ao eletrônico sem perder a ironia

Já falamos aqui no site sobre o importante legado de ícones do rock rural brasileiro, como Sá, Rodrix & Guarabyra. E a boa notícia é que, para quem pensava que o “gênero” estava morto e enterrado por aqui, vai ter uma grata surpresa ao dar um play no trabalho do DUO CHIPA, uma “misteriosa” (são um casal, amigos ou irmãos?) dupla de músicos de São Paulo (SP) e Campo Grande (MS), que apresenta um repertório inovador que transita do rural ao eletrônico sem perder a ironia.

Formado pelo “Cleo” e a Audria Lucas, o DUO CHIPA pesquisa a música caipira e o rock nacional em suas composições e, como produtores assumidamente artesanais, atuam desde a composição até a gravação de todo material, misturando processos analógicos, até métodos digitais com beats eletrônicos e drum machines. “O que nos interessa é trazer assuntos contemporâneos e criar uma sonoridade híbrida”, aponta o guitarrista Cleo.

Cleo e Audria Lucas (Divulgação)

Sobrevida ao K7

É impossível ouvir DUO CHIPA e ser a mesma pessoa depois. Isso porque o estranhamento causado pela sincronia de gêneros e processos de gravação é tão marcante quanto as letras francas (até demais) que falam, sobretudo, de relacionamentos e a difícil convivência com os padrões impostos pela sociedade.

Outro ponto que merece destaque no trabalho desses dois é que, por meio de uma clássica Tascam Porta07, registram suas canções exclusivamente em fita cassete, criando uma personalidade própria para suas gravações, flertando com produções da metade do século passado. Além disso, articulam as referências de duplas caipiras e bandas como Fellini, Marina Lima e Velvet Underground, o Duo cria riffs de guitarra ou violão sendo levados por drum machines e vozes duetadas, uma fórmula bastante usada pelo CSS (Cansei de Ser Sexy).

A dupla iniciou suas atividades em 2020 e lançou seu disco de estreia: “Toada Audaciosa”. Usando violão e guitarra, duas vozes, uma drum machine tocada à mão e alguns samples, o material registra uma faceta mais crua da dupla. Ainda no mesmo ano participou do Festival Volume Morto (apresentação online) junto de Lucinha Turnbull, Shophia Chablau, Kassin e entre outros.

2 Toques com Duo Chipa

RC: Qual o lance do Duo Chipa com o cassete, que era vintage e hoje virou objeto de ostentação? O som analógico é o que mais se aproxima do resultado que procuram enquanto banda?

DC: Nós gravamos com fita cassete desde 2016, é uma maneira mais íntima de se relacionar com a música, tanto pela estética sonora quanto pela prática analógica em si. Lidar com várias fitinhas, um equipamento mecânico com pecinhas e botões, a saturação das entradas analógicas que dão a sensação de um som mais quente e encorpado… por aí vai. Resumindo, é a sonoridade que procuramos para nossa música. Recentemente arranjamos um jeito de produzir fitas cassete para vender, além de serem a nossa matéria prima de gravação. A ostentação rola porque não é qualquer um que preservou seu toca fitas e ainda tem as cassetes mas ainda sim, esse mercado está voltando e é uma maneira mais acessível de se produzir uma mídia física em comparação ao vinil. Além disso, é muito mais estiloso do que o pendrive e o CD… até porque estes mantém a mídia .mp3, que é idêntica ao que você encontra no youtube ou plataformas. Tem muita gente do mundo todo trampando com cassete, é o caso da Doomshop, Virtua94, Gnar Tapes (EUA), Ulyssa (MX), Nyege Nyege Tapes (Uganda), aqui no Brasil tem a Desmonta, a Tudo Muda Discos, enfim…

RC: Apesar de tantas referências setentistas, o som de vocês não deixa de ser moderno, tem uma vibe de Cansei de Ser Sexy. É nessa linha o que podemos esperar do álbum “Dura”? E por que simplesmente “Dura”?

DURA: este é o nome do próximo álbum do DUO CHIPA, planejado para sair entre agosto e setembro.

DC: Talvez a referência de CSS venha por causa da nossa “terceira integrante”, a drum machine. Nossas referências passam pelos anos 60 até os 80, mas o que nos interessa é trazer assuntos contemporâneos e criar uma sonoridade híbrida. No DURA juntamos nossa vivência e apreço pela música caipira usando guitarra e bateria eletrônica, tentando explorar essa junção e criar um som diferente. DURA é um nome forte pra nós, tem tanto o significado de dureza como o de durabilidade. Pra além disso, é uma palavra aberta, pode significar algo algo sexual, por exemplo, dependendo de quem ouve. A nossa música também é meio “dura”, a levada truncada, ritmo repetitivo, letra crua, etc…

Divulgação

Confira a faixa “MACABALA” que irá integrar o disco “Dura” do Duo Chipa:

E você, o que achou do som do DUO CHIPA? Dá os detalhes para nós aí nos comentários!

Marcos Tadeu

Marcos Tadeu

Jornalista, idealizador e apresentador do Rock Cabeça na 100,9 FM, Rádio Inconfidência FM (MG) desde 2016. Acima de tudo, um fã de rock gringo.