Drowned Men: na lanterna dos afogados

Drowned Men: na lanterna dos afogados

Abre parênteses.

No melhor filme lançado em 2021 (não que isso seja grande coisa), “Last night in Soho”, uma jovem estudante de moda se projeta na mágica Londres dos anos 60 todas as vezes em que pega no sono. E isso significa ser embalada por todas as canções que marcaram aquela época, como a clássica “Downtown”, interpretada brilhantemente por Anya Taylor-Joy.

Fecha parênteses.

Belo Horizonte, 2021. Uma cidade sem graça, urbana e ao mesmo tempo provinciana, que, querendo ou não, ainda vive à margem dos grandes lançamentos e shows. Nesse contexto, temos o funcionário público Adriano Bermudes, assistente social da PBH. Um cara gentil e aparentemente inofensivo que, no entanto, revela-se uma espécie de Ian Mcculloch ao fim do expediente, quando tira os óculos, bota o sobretudo e remodela o topete. Neste momento, O Bermudes se torna simplesmente “Bê”, e a projeção se inicia.

A trilha, neste caso, não é os anos 60, mas o que de melhor os anos 80 já produziram – The Cure, Smiths, Echo and The Bunnymen – só que com um toque de modernidade, cortesia de uma nova geração de músicos que cresceu ouvindo Interpol e Editors, para citar alguns que me vêm à cabeça neste momento. A esse grupo de 5 jovens liderado por Bê, damos o nome de Drowned Men, os afogados na nostalgia de um goth-rock e post-punk que ainda hoje dá seu recado aos ouvidos mais atentos – e também desatentos.

drowned men
Welcome to The Jungle (Foto: Curt Duo)

Depois do belíssimo álbum de estreia “Bats” (2020), em menos de um ano o Drowned Men nos brinda com “Abyssal” (2021), que prossegue a linha do rock gótico existencialista, libertador e ao mesmo tempo sombrio do primeiro trabalho. Tendo em vista que hoje são pouquíssimas bandas independentes que se aventuram em álbuns – tanto por questão de grana como de criatividade – a produtividade do Drowned Men surpreende, embora os próprios integrantes a vejam esse processo como algo espontâneo. “Geralmente são ideias que surgem em ensaios, ou riffs que o Joey me manda por mensagem, e então eu desenvolvo essas ideias, faço a música inteira (com começo, meio e fim) e coloco letra e voz”, revela Bê.

6° Elemento

Um diferencial da banda é contar com o papel ativo da produtora e poetisa Raquel Batista, que além de esposa do baterista Gabriel Martins, trabalhou em um conceito para o álbum Abyssal que foi abraçado pelos 5 integrantes. “Quando a ideia de produzir um novo disco com a Drowned Men surgiu, eu quis entender primeiro por que caminhos a banda gostaria de seguir, inclusive na sonoridade. Foi consenso entre eles que um som mais denso e mais dark era o caminho natural que se desenhava. Então se já estávamos afogados, pensei em como poderíamos ir mais fundo nisso, no post-punk e nas referências estéticas mais sombrias. Logo me veio à mente o nome e a ideia de Abyssal, mantendo a conexão da Drowned Men com o mar e com a escuridão ao mesmo tempo”, conta a produtora que tem na mão a lanterna dos afogados.

2 3 toques com Adriano Bê, vocalista da Drowned Men

Bê após as 18 (Instagram pessoal)

RC – Enquanto hoje é comum que bandas independentes lancem singles a conta-gotas, vocês lançaram 2 albuns em um espaço menor que 2 anos. De onde vem essa produtividade?

AB – A banda está sempre criando alguma coisa… Geralmente são ideias que surgem em ensaios, ou riffs que o Joey me manda por mensagem, e então eu desenvolvo essas ideias, faço a música inteira (com começo, meio e fim) e coloco letra e voz. E estou sempre compondo alguma coisa também… Então eu acho que é só o nosso modus operandi natural mesmo, e não algo estratégico, apesar de vir bem a calhar! Ter uma amiga na produção e ajudando a viabilizar toda essa inventividade ajuda muito também!!

RC – Outro elemento que diferencia vocês é o papel do produtor, no caso, produtora. Todo esse conceito por trás da temática de “Abyssal” vem da Raquel Batista?

AB – Sim!! Quem primeiro apareceu com algumas gravuras e imagens e com a ideia do nome (Abyssal) foi a Raquel, e nos sentimos imediatamente cativados pela possibilidade de fazermos algo que fosse um pouco mais denso e sombrio que o disco anterior. Tanto que descartamos algumas músicas que já tinhamos e recomeçamos do zero, e acho que estamos todos muito satisfeitos com o resultado final! Particularmente, apesar de me orgulhar muito dos trabalhos anteriores, esse é o disco que mais sintetiza tudo o que eu sempre quis fazer! E o fato de termos gravado ele no Estúdio Galvani… Com a participação do Cláudio Valentim, da Não-Não Eu, nos teclados, e da Quel Batista, nos backing vocals… E ainda por cima com a arte de capa incrível do artista carioca João Vítor Pedroza e o projeto gráfico do Lucas Medeiros… Não poderíamos estar mais realizados!! Trata-se, certamente, de um amadurecimento… O que mais poderíamos querer?

RC – No Kaust você é responsável pelas guitarras e no Drowned pelos vocais, e você parece muito à vontade neste papel. Qual das duas personas você deseja seguir daqui pra frente?

AB – Não estou mais na Kaust – não foi nenhum desentendimento; apenas uma escolha pessoal mesmo – então eu acho que isso já responde qual persona tem se sobressaído mais! Rs Apesar de gostar de tocar guitarra e de ter tocado guitarra e violão em praticamente todas as bandas anteriores que eu já tive ou participei, meu verdadeiro desejo sempre foi poder só cantar e poder me expressar sem amarras… Então quando surgiu a Drowned Men, eu disse: “Estou dentro, mas só se eu puder só cantar!!”

Capa de “Abyssal”

A capa misteriosa de “Abyssal” é uma ilustração do João Vittor Pedroza, também responsável pela capa do single “On This Halloween”. A imagem é inspirada na lenda marinha Umibōzu (ume que significa “mar” e o caractere que se traduz como “monge budista”). Ele é um youkai japonês, que vive no oceano e amaldiçoa o navio de qualquer pessoa que falar com ele.

O disco Abyssal é um lançamento independente da Drowned Men, que conta com os músicos Adriano Bê (voz), Adriano JS (baixo), Gabriel Martins (baterias), John Silva (guitarra) e Joey Blasmain (guitarra). O álbum teve produção geral de Raquel Batista e produção musical de Fabrício Galvani, sendo gravado, mixado e masterizado no Estúdio Galvani, em Belo Horizonte (MG). Também participaram Cláudio Valentin (sintetizadores) e Raquel Batista (backing vocal). O projeto gráfico do disco é de Lucas Medeiros. O lançamento contou com o apoio do Coletivo Lança e foi produzido com recursos da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte.

Confira o vídeo de “On This Halloween” com Drowned Men

Ficha técnica

  • Direção e Fotografia: Denys Aoki
  • Roteiro e Produção: Raquel Batista
  • Elenco: Enne Maia
  • Adriano Bê
  • Adriano Js
  • Gabriel Martins
  • Joey Blasmain
  • John Silva

Relembre a entrevista de 2/5 da Drowned Men no Rock Cabeça:

E então, o que achou do nosso som do Drowned Men? Deixe seu comentário aí embaixo!

Marcos Tadeu

Marcos Tadeu

Jornalista, idealizador e apresentador do Rock Cabeça na 100,9 FM, Rádio Inconfidência FM (MG) desde 2016. Acima de tudo, um fã de rock gringo.