[PREMIERE] “Ficou tudo horrível”: Aknus e seus bichos escrotos

[PREMIERE] “Ficou tudo horrível”: Aknus e seus bichos escrotos

Ficou tudo horrível“, desabafa Janyni Tayná, letrista e vocalista mística da Aknus, numerosa banda mineira que tem no chamado “hardcore melódico” de bandas como Evanescence sua maior inspiração. A Aknus naturalmente também foi abalada pelo período pandêmico e, mais ainda, pela forma com que ele é pateticamente gerido por Bolsonaro – e seu físico atlético. Com um ep engatilhado há algum tempo, a banda sentiu que o timing de mais de 150 mil mortes por coronavírus no país era ideal para o lançamento do single “Rattus Rattus”, diferente de tudo que fizeram até aqui e pronto desde antes do início da pandemia por aqui, em março.

Essa música é um grito de socorro sobre o tanto de merda que tá acontecendo no mundo, tem muita coisa que eu queria dizer sobre essa situação toda, e essa foi a melhor forma que eu encontrei.

Janyni Tayná – Vocalista

Aknus no palco do Matriz

O protesto da vocalista é seguido de perto pelo eventual parceiro de vocais e guitarrista Felipe Fill, criador, ao lado do segundo guitar Bruno Elber, de alguns dos riffs mais inventivos que você jamais ouviu no underground mineiro, quiçá, brasileiro.

Estamos a cada dia mais escravos do poder e do dinheiro, desenvolvendo uma apatia perante as crueldades e os descasos pelo mundo. A utopia dos Ratos está acontecendo e a gente não percebe!

Felipe Fill – guitarra/vocais

Fill pelo olhar diferenciado do Heitor Honorato

“Os ratos vão comer os ratos”

Em “Rattus Rattus”, a banda consegue nos levar ainda mais fundo à decadência que se tornou o país em pleno 2020: uma viagem um tanto indigesta rumo ao (gabinete do) ódio. Remetendo a duas lendas do rock nacional (Os Mutantes “Panis Et Circenses“, Titãs “Bichos Escrotos” e Cazuza “Brasil“), a letra de Aknus pega na ferida do nepotismo, corrupção, ostentação, hipocrisia, soberba e, principalmente, a completa desolação social, elementos que passaram a dominar o país pós-golpe de 2016, culminando, hoje, em um governo ditatorial, de clara inclinação fascista e terrivelmente evangélico.

Conduzindo o ouvinte por essa rapsódia infeliz – um tragicômico hino às avessas – de 5’25” estão as guitarras autodidatas de Fill e Elber, o baixo proeminente de Sofia e a batera descomportada de Samuel, que ganham brilho extra com a produção certeira e luxuosa de Luã Linhares (Suspense Band), experiência que ele caracteriza como um “prazer enorme”. “Espero que muita gente possa conhecer essa obra de arte musical da Aknus“, afirma Luã.

Trabalhar com a Aknus na produção da Rattus Rattus (e das outras músicas) foi um prazer enorme. Além de todos serem pessoas maravilhosas, você consegue ver um espírito criativo em cada um, em cada detalhe da música. É uma canção muito rica, misturando várias influências de diferentes estilos musicais, uma valsa melancólica que passeia poeticamente pela distopia que é nossa realidade. Nessa música, eu tive a honra de participar tocando a escaleta e contribuir com algumas ideias do arranjo, então me sinto praticamente como parte da banda nessa expectativa pra lançar esse filho ao mundo.

Luã Linhares – músico/produtor

Mais do que músicos que sabem se expressar sem demagogia ou marketing, a Aknus leva seu trabalho a sério, esforçando-se para garantir seu quinhão no seleto rol de bandas independentes que passam da música como “hobby” no tempo livre para a história do underground. E que venham as críticas!

Aknus à vontade: em gravação com o produtor Luã Linhares

RC – Em relação às letras, a AKNUS sempre teve uma pegada mais poética, evasiva, e a letra de Rattus tem um punch político realista. Significa que a banda agora percorrerá por esse caminho?

JT – Na verdade eu não penso em um caminho pra percorrer quando faço as letras, essa também saiu da mesma forma que todas as outras, tem um ‘punch político realista’ porque eu tô realmente puta com as coisas que estão acontecendo, e isso me guia pra escrever, seja de uma forma mais subjetiva ou direta.

RC – Com a pandemia, o que mudou na vida de uma banda independente: ficou ainda mais difícil gravar e soltar singles?

JT – Ficou tudo horrível, mas também ajudou a pensar nas coisas de um ponto de vista diferente. Essa música que estamos lançando já estava pronta antes da pandemia acontecer, e ainda bem, porque é bem mais difícil pensar e fazer material de dentro de casa para ser consumido dentro de casa de uma forma relevante. E o mais difícil é viver sem os shows, é o que eu mais gostava de fazer, e acredito que ajudava muito a movimentar os lançamentos também. Tudo que é só virtual me parece ser muito passageiro, não dá tempo de engolir de uma forma saudável. Não sei explicar muito bem, mas é só um ponto de vista pessoal.

Confira a capa do novo single da AKNUS, “RATTUS RATTUS”:

Saca só o vídeo de “Rattus Rattus”:

Ficha técnica

Música: Aknus

  • Produção e Masterização: Luã Linhares
  • Letra: Janyni Tayná 
  • Vozes: Janyni Tayná e Filipe Soares
  • Guitarras: Filipe Soares e Bruno Elber
  • Baixo: Sofia Lempp
  • Bateria: Samuel David 
  • Vídeo Colagem/Paródia: Aknus
  • Edição: Bruno Elber
  • Direção de edição: Janyni Tayná 

Reveja a performance da AKNUS no Rock Cabeça Sessions (2019):

E então, curtiram o novo single da AKNUS? Deixe suas impressões no campo de comentários abaixo!!!

Marcos Tadeu

Marcos Tadeu

Jornalista, idealizador e apresentador do Rock Cabeça na 100,9 FM, Rádio Inconfidência FM (MG) desde 2016. Acima de tudo, um fã de rock gringo.