Enquanto vivemos os sonhos que tivemos na infância desaparecem
Corta para o início dos anos 90. 18 anos. Ainda não plantei uma árvore ou escrevi um livro, mas posso dizer que já fiz parte de uma banda, por sinal, cover de Oasis. No repertório da chamada Black Garden (curiosamente o nome faz alusão a duas músicas do Pearl Jam), três clássicos: “Supersonic”, “Live Forever” e “Champagne Supernova”. Além delas uma de minha autoria, que também respondia pelos vocais: “Smile”. Lançamos uma demo e fizemos um único show comigo na formação no quintal do baterista. Foi o suficiente para fazer familiares chorarem e até meninas tentarem flertar com um Liam de quinta como eu.
Corta para novembro de 2025, 46 anos. Morumbi (me recuso a chamar de Morumbis). Último show da tour do Oasis pelo mundo. Chorando copiosamente enquanto hit após hit me lembrava do adolescente que fui e que, mal sabia eu, ainda morava dentro do meu peito. Mas, diferente da letra de “Fade Away” (While we’re living the dreams we had as children fade away), os meus sonhos reapareceram ali naquele estádio lotado de, quem um dia imaginaria, fãs novos e antigos do Oasis, fãs que se abraçaram e com toda glória do mundo, fizeram um dos melhores “poznan” da turnê enquanto copos plásticos de cerveja voavam pelo ar.
7% de bateria, molhado de garoa por mais de 3 horas, apertado para ir ao banheiro e de óculos quebrado. No palco, a surra continua e Noel anuncia o seu lado B mais A da carreira : “The masterplan”. Seguro as lágrimas com as mãos e um cara deixa a namorada para me abraçar. Conheceria, não conheceria? Não importa. Ele vê que me tirou do surto e me manda um abraço. A fraternidade entre irmãos, que começou algum tempo antes do primeiro show em Cardiff, transbordou para a plateia, e o toque emotivo se tornou ainda maior por ter sido o 23/11 o último show da Tour 25 dos Gallagher. Uma tour que foi essencialmente sobre boa música, mas também sobre o amor incondicional, sem gênero, sem olhar a quem, sem sexo ou disputa. O Oasis deixou de ser uma conturbada banda de rock para atingir o patamar de mito.
Por horas seguidas de faixas escolhidas a dedo e um super telão que engolia o vivo com imagens de arquivo, os Gallagher assumiram toda a mitologia que até então sondava a banda, mas que só foi reconhecida nessa tour: em São Paulo, a famosa logo invadiu os voos, a Paulista, todos os bairros, shoppings e hotéis (lotados), estampando o peito não só de quem viveu o auge do britpop, mas de crianças, velhos, adolescentes, homens e mulheres de todos os cantos do Brasil (e do mundo).
A gente faz muita bobagem na vida em termos de escolhas. Mas uma escolha certa que relembrarei até os últimos dias foi a de comprar o ingresso (bem caro, tenho que confessar) para esse comeback que tinha tudo para ser nada mais que uma jogada de marketing, mas que acabou sendo a melhor noite que um amante de rock poderia ter tido em toda sua existência. Um sonho que nunca irá desaparecer.
E você, também foi a algum show da Tour 25 do Oasis? Conta pra nós aí nos comentários!



