Em casa com Nina

Em casa com Nina

Nina é rock. É também pop, soul, jazz, eletrônico, mpb e bossa nova. A paulista Nina Fernandes, 19, é tudo que ela quiser ser, dependendo do seu estado de espírito, dependendo do que lhe move, no momento. A gente se sente em casa com essa “menina”, que tem uma facilidade para cantar assombrosa (podemos captar sorrisos no seu canto) e uma voz que remonta, por vezes, de Marisa Monte a Amy Winehouse. Como no caso de Amy, estamos diante de uma “old soul”, porém, made in Brazil.

Na verdade, Nina tem atitude roqueira suficiente para incorporar o próprio gênero/nicho musical, o gênero Nina, que chegou para trazer frescor às FM’s dominadas por um tema só e foi, certamente, a grande revelação da música brasileira em 2018, emplacando, inclusive, “Cruel” em trilha de novela – uma balada difícil à la “The Scientist” do Coldplay, surpreendentemente bem recebida no âmbito global (e record de covers no youtube).

nina

Quem é Nina Fernandes?

Desde “bem pequena”, como a própria cantora gosta de frisar, a música já era parte do seu cotidiano, e cantar, mais do que um prazer, uma missão.  Nina faz parte de uma vertente interessante da chamada “neo-mpb”, que conta com outras jovens cantoras como a dupla Anavitória e Ana Vilela que têm, nas letras, na composição e na aura bucólica, os principais atrativos – algo quase revolucionário em tempos nos quais a imagem se sobrepõe à essência – quando não a esmaga.

Aliás, a imagem é um assunto à parte na carreira emergente de Nina: seus outfits não exploram o corpo, o que faz com que, em tempos de machismo exacerbado, sua música consiga alcançar ouvidos, digamos, menos atentos à mensagem. Na verdade, o estilo da cantora se espelha muito em Lily Collins, atriz britânica radicada nos Estados Unidos, cujo charme tem mais a ver com sobrancelhas bem delineadas e um sorriso marcante no rosto (OFF TOPIC: assistam na Netflix “To the bone”, a obra de arte da Lily).

lily

 Escrevendo pelas bordas

Além de uma voz inigualável, a simpatia e a linguagem musical capaz de agradar a fãs de qualquer tipo de música, Nina possui seu próprio léxico na hora de escrever. Seguindo à risca a máxima de Drummond – “escrever é cortar palavras” – suas letras são econômicas e precisas, o que não quer dizer que Nina não trate de temas recorrentes, como sua predileção pelo verbo “bordar” e seus neologismos, demonstrando que, para Nina, a vida é uma imensa colcha de retalhos:

“Borda os pensamentos profundos” – “Estrada”

“Rebordo meu corpo pra você” – “Casa” 

Trechos como esses comprovam que Nina é uma espécie de compositora que traça as palavras com delicadeza, em frases que se tornam reconfortantes para quem as ouve, à medida que solfejadas com a mistura de técnica e talento nato que se torna sua voz. Algo que, até hoje, sentimos somente com medalhões do naipe de Marisa Monte e Maria Bethânia.

Uma estrada de influências

Diferentemente dos seus colegas da nova geração da mpb, Nina tece seu universo com influências de artistas contemporâneos como Lana Del Rey, Billie Eilish, Tessa Violet e até Red Hot Chilli Peppers, o que só contribui para modernizar o seu trabalho (passo semelhante chegou a dar Mallu Magalhães, a quem muitos recorrem quando querem entender o som de Nina).




Atenta ao que rola de mais interessante na cena, Nina coleciona featurings não só com congêneres como Anavitória, mas roqueiros-pop de plantão, como Plutão Já Foi Planeta, o exótico Hotelo e até a sensação do edm no Lollapalooza 2019, o dj Pontifexx, com quem Nina – e seu inglês perfeito – gravou a lindíssima “Your eyes” (atenção aos comentários: “peraí, essa dupla é brasileira?”).

O novo single de Nina, “Casa”, que fará parte do primeiro full album a ser lançado em 2019, é uma receita de contemporaneidade em termos de pop, com uma produção requintada – outra paixão de Nina – e sonzinhos bacanas que poderiam servir muito bem como abertura para alguma série jovem da Netflix.




Nina Fernandes, por sua versatilidade, tem a capacidade que poucos artistas têm de abrir portas de novas influências para seus fãs/ouvintes. Tal como a neozelandesa Lorde, Nina é percursora em termos de literatura que merece ser lida e sons que merecem ser escutados. Em outras palavras, ela tem bom gosto para arte. E que bom temos e teremos Nina para nos guiar de volta para casa daqui para frente.

Quis viajar de corpo inteiro
Conhecer cada segundo
Do que é ser no singular

Olhos atentos nas esquinas
E as feridas desse mundo
Me ensinaram a rezar

Ah, rodo e não acho os meus pedaços
É que o buraco é mais embaixo
Mas que vontade de voltar

Ah, como o teu cheiro ocupa espaço
E já tem nome o nosso acaso: Casa

Quis me calar, pensar pra dentro
Conhecer minhas perguntas
Te perder pra me encontrar

Quis te afastar do pensamento
E os minutos de coragem
Me fizeram desabar

Ah, rodo e não acho os meus pedaços
É que o buraco é mais embaixo
Mas que vontade de voltar

Ah, como o teu cheiro ocupa espaço
E já tem nome o nosso acaso: Casa

Certeza, descanso, repouso, recanto
Rebordo meu corpo pra você
Recebo, rebato, te enquadro, retrato, receio
Me acho em você

Ah, rodo e não acho os meus pedaços
É que o buraco é mais embaixo
Mas que vontade de voltar

Ah, como o teu cheiro ocupa espaço
E já tem nome o nosso acaso: Casa

(Nina Fernandes – “Casa”)

Confira a entrevista com Nina Fernandes para a Rádio Inconfidência de BH:




Veja como é a Nina Fernandes ao vivo:




Conheça “Casa”, o novo single:




E então, o que achou da Nina Fernandes? Conte pra nós aí nos comentários! 

Marcos Tadeu

Marcos Tadeu

Jornalista, idealizador e apresentador do Rock Cabeça na 100,9 FM, Rádio Inconfidência FM (MG) desde 2016. Acima de tudo, um fã de rock gringo.