Come to Brazil, Chappell Roan!
Um dos maiores mistérios da música, ou da arte em si, é a capacidade que ela tem de nos emocionar independente do quão vividos nós nos encontremos. No meu caso, que trabalho diretamente com música há mais de 10 anos, é ainda mais surpreendente que novos artistas como a cantora/compositora norte-americana Chappell Roan (o nome é homenagem ao seu avô) consigam me emocionar no auge dos meus 40 e tantos.
Antes que me pergunte: não, Chappell Roan obviamente ainda não é tão conhecida no Brasil, pelo menos não da mesma forma que sua mais notável influência, Lady Gaga. Em seu favor, o último Grammy de revelação do ano, uma premiação que ela, por sinal, aproveitou para denunciar a falta de assistência de saúde para artistas contratados por gravadoras, finalizando com uma versão matadora de “Pink Pony Club” que encantou até Elton John.
Mas além de um cabedal de hits como “Good Luck, Babe” e a mais recente “The Subway” que recentemente incendiaram o Reading Festival, o que mais me encanta na Kayleigh em seus emblemáticos 27 anos, além do vozeirão perfeito, é sua autenticidade. Ela não se deixa abalar pelas investidas da fama, sob a pena de ser considerada até antipática ao reclamar de abordagens fanáticas na rua. Inclusive, já apelou com repórteres que não paravam de gritar enquanto ela chegava a um evento da MTV.
E não só. Para quem não sabe, Chappell Roan teve que se reinventar após ser dispensada pelo seu próprio selo. Um dia essa performer que alude a drag-queens no palco já foi “trevosa”, cantando sobre morrer jovem em um tom totalmente diferente da alegria colorida que faz milhares de pessoas coreografarem “Hot to go” em festivais.
Até eu, que sou péssimo em dança, quanto mais coreografia, me encho de coragem quando escuto a Chappell. Pois ela é o que a música sempre deveria ser: libertação – em toda sua acepção. Kayleigh é uma menina gay bipolar que cresceu nos grotões conservadores da América. Não perdeu o amor pelo bucólico e sua simplicidade coroada pela fama demonstra que o showbiz ainda é capaz de reconhecer uma estrela, antes tarde do que nunca.
Come to Brazil, Chappell Roan, que já estamos quentinhos pra essa viagem.

