Space Grease: uma bem-vinda fenda no rock pesado
O que você faria se, na maior metrópole do país, encontrasse uma fenda no espaço-tempo que lhe permitisse abstrair o excesso de informações, comidas, bares, lojas, museus em troca de algumas horas de imersão no que de melhor o universo rock and roll provê, não só em termos de música, mas de moda e cultura pop? Bem, a boa notícia para os ansiosos de plantão é que essa fenda existe. Estou falando do Fenda 315, um espaço que reúne loja, bar e estúdio musical, berço e morada de uma das bandas de rock pesado mais interessantes de São Paulo: a Space Grease. “Desde 2018 a gente recebe bandas autorais de quinta a sábado, todos os finais de semana e, com um estúdio a disposição, foi fácil nos juntar pra produzir algo“, explica a vocalista e owner da marca Sabot, Ju Ramirez.
O Space Grease está em fase de divulgação do belíssimo EP “Can’t hide”, com 6 faixas redondinhas que remontam as melhores referências do que um dia conhecemos como o bom e velho rock and roll de nomes como Black Sabbath e Led Zepellin. E a cereja desse bolo com toques de uísque é justamente o vocal bem delineado de Ju Ramirez, que encontrou, na banda, uma forma não só de relaxar da responsa de empreendedora fashion, como entrar em contato com sonoridades que marcaram sua vida e certamente marcarão a vida de outras pessoas a partir deste disco. Bem à vontade como front woman em uma banda de homens, Ju é otimista em relação à atual escassez de mulheres na cena roqueira. “Isso está mudando muito e acredito que num futuro muito próximo teremos muitas mulheres tocando todos os instrumentos e muito mais bandas formada por mulheres”, aposta.
O machismo tirou das mulheres muitas liberdades, inclusive (e principalmente) artísticas.
Ju Ramirez – Space Grease
2 6 Toques sobre Space Grease por Ju Ramirez
RC – Ei Ju Ramirez, como vão as coisas por aí em SP?
JR – Oi Marcos Tadeu, por aqui tudo bem, muito frio só! E por ai, tudo certo?
RC – Para a gente se situar, conta pra nós o que rola no Bar Fenda 315 e a loja Sabot, onde a Space Grease se formou….
JR – A história é meio longa mas, tentando resumir, eu e meu companheiro (Franco, o guitarrista da banda), temos uma marca de roupa desde 2008, a Sabot. Em todo esse caminho da marca, a música sempre esteve lado a lado, seja apoiando bandas, tocando, produzindo shows, coletâneas de bandas independentes, fazendo merch e etc. Em 2016, nós nos juntamos com outros amigos pra ter nosso primeiro espaço físico que funcionava como um showroom. Neste lugar nós começamos a fazer festas, vídeos, entrevistas sempre conectando a marca com a música, mais especificamente as bandas de rock, punk rock, hard core, metal e etc. Esse lugar começou a ficar pequeno e o Diego (outro guitarrista da Space Grease), que tinha um outro projeto e que sempre tocava com a banda do Franco da época, nos abordou para abrir um novo espaço, onde teríamos mais autonomia pra fazer esses eventos. Então a junção minha, do Franco, que somos a Sabot, e do Diego, deu origem a Fenda 315. Hoje nesse lugar funciona a loja da Sabot, o bar da Fenda e um estúdio de ensaio. Desde 2018 a gente recebe bandas autorais de quinta a sábado, todos os finais de semana e, com um estúdio a disposição, foi fácil nos juntar pra produzir algo. O Franco tinha uma banda de Punk Rock, o Diego toca hoje no Gritando Hc, o Glauco tem mais dois projetos além da Space Grease e o recém chegado Tonhão, que inclusive nós conhecemos quando ele veio tocar aqui, toca em duas bandas de Death Metal. A ideia pra formar a Space Grease foi de ter uma banda diferente do que todos já tiveram e a Fenda 315 foi onde tudo aconteceu.
RC – A começar pela, digamos, viagem do nome da banda, parece que vocês gostam de fazer um verdadeiro crossover de gêneros. Sendo assim, como vocês se apresentam? Como banda de metal, punk, indie-rock, doom?
JR – Nós nos apresentamos como banda de rock e a categorização mais específica fica a cargo de quem ouve. Mas, sim, é uma mistura dos gêneros que você citou, tem influência de blues, punk rock, rock clássico, metal e, como moramos no Brasil, a gente faz questão de incluir alguns elementos sul-americanos.
RC– Apesar de contar com a participação da Michelle Abu, em termos de mulheres na banda é só você e mais 4 caras. Você já refletiu sobre o fato de que os vocais geralmente são mais facilmente ocupados por mulheres em detrimento dos instrumentos em bandas de essência rock?
JR – Como te contei, a banda nasceu por afinidade. Na banda estão meu companheiro e meu sócio. Quando íamos escolher o batera e o baixo, priorizamos mulheres. Mulheres bateristas, no nosso meio, são super disputadas, pois existem poucas e, as que existem, já tem várias bandas. Tentamos 4 mulheres baixistas e nenhuma deu certo. Duas não puderam por questão de agenda, a outra foi morar fora no Brasil e a quarta não se identificava com o som… Sobre as mulheres ocuparem, na maioria das vezes, os vocais das bandas de rock, já refleti inúmeras vezes sim e acredito que essa questão é histórica e, felizmente, está mudando todo dia. Sempre existiram muitas mulheres vocalistas, tanto no rock, quanto no pop, na música brasileira, etc. Em todos os gêneros musicais as mulheres sempre ocuparam mais a voz das bandas. Isso fez com que muitas mulheres enxergassem que podiam ocupar esse lugar e acabassem, efetivamente, ocupando ele. O machismo tirou das mulheres muitas liberdades, inclusive (e principalmente) artísticas. Num contexto histórico, eram pouquíssimas mulheres instrumentistas, nós demoramos muito pra conseguir enxergar que podemos sim ocupar esse lugar. Se você for listar grandes guitarristas, a proporção homem e mulher é muito descalibrada, isso pra baterista, baixista, percussionista e etc. As poucas mulheres que os ocuparam sofreram muito preconceito e tiveram que lutar muito para estar lá. Não era natural, era uma luta. E isso gerou a realidade atual. Poucas mulheres, proporcionalmente aos homens, ocupando o espaço de instrumentistas em bandas. Mas isso está mudando muito e acredito que num futuro muito próximo teremos muitas mulheres tocando todos os instrumentos e muito mais bandas formada por mulheres!!
RC – Ainda com base na pergunta 4, é notório, principalmente nas redes sociais, a quantidade de mulheres bateristas e guitarristas (principalmente) que mostram sua técnica e seu trabalho. Então seria ainda o bom e velho machismo o que impede muitas de fazerem a transição do TikTok para os palcos?
JR – Eu sou uma péssima usuária de redes sociais, inclusive ninguém da banda tem TikTok. Como comentei, quando fomos buscar baixista, conversamos com as 4 mulheres e nenhuma pode ou quis entrar na banda. E nós temos aqui um bar que tocam bandas autorais e independentes toda semana! E só conseguimos selecionar 4 baixistas pra chamar! É muito pouco! Talvez o machismo ainda intimide mulheres de saírem das redes sociais e formarem bandas, se juntarem, mostrarem seu trabalho além da internet! Mas esse efeito da rede social irá encurtar o processo e influenciar cada vez mais as mulheres a ocuparem o palco. Nós temos um exemplo na própria família, a Cecilia, nossa caçula, é super apegada a vários instrumentos, inclusive já está nos cobrando quando ela pode entrar na banda kkkkkk.
RC – Quais são os projetos para o Space Grease daqui pra frente, tendo em vista o “boom” de festivais de música de todos os estilos neste segundo semestre no Brasil?
JR – Temos alguns shows marcados pro segundo semestre, alguns ainda não confirmados que não podemos divulgar. Vamos lançar um clipe que já ta pronto em breve e já temos e estamos trabalhando em novas músicas. Nosso show de lançamento do EP está marcado para o dia 14/08, no Estúdio Family Mob. Estão todos convidados!
E então, o que achou do lançamento da Space Grease? Conta para nós nos comentários!