Saulo Mendes aprende beabá do folk com Jay Horsth

Saulo Mendes aprende beabá do folk com Jay Horsth

Desde que a geração perdida efetivamente se perdeu, tenho observado o advento de uma outra geração tão interessante quanto, mas essa bem mais afeita aos padrões técnicos de gravação e produção, sem contar a divulgação de seus trabalhos. Curiosamente, trata-se de uma geração que tem fortíssima influência do folk feito lá fora, e principalmente de Wilco, incluindo aí o solo de Jeff Tweedy e demais integrantes. Como exemplo, podemos citar Midnight Mooca, Sliced Hearts e a Young Lights (que já fez parte da geração perdida em seus primórdios).

Para engrossar essa estatística, temos Saulo Mendes, que lançou seu ep “Nuances” em setembro, contando com uma produção peso pesada, não só de Jay, muso frontman da Young Light, como um dos Vittoracis da Chico e o Mar, no caso, Guilherme. O que é mais espantoso neste trabalho é a coragem com que Mendes encara a pronúncia do idioma inglês, pressionado por um estilo musical que, demasiadamente acústico, acaba realçando os vocais. Nesta árdua tarefa, o músico contou com Jay, que também aproveitou para palpitar sobre as composições.

Trabalhar com Saulo foi um processo bem natural, acho que a gente vem de um berço musical parecido, que vem do folk americano. E uma das taferas que a gente teve foi trabalhar exatamente essa raiz, o folk cantado em inglês. Então ele me procurou pra ajudá-lo nas pronúncias, a encaixar as letras e as sílabas na métrica da melodia, mas também trabalhar a parte musical, dando uma estrutura pras músicas. Foi um trabalho muito enriquecedor pra mim, produzir essas músicas que vêm de um lugar muito verdadeiro. O Saulo é um cara extremamente criativo e ele tem uma inteligência musical muito sóbria. Eu acho que esse EP fala muito sobre isso. Foi um prazer enorme trabalhar com ele ao longo deste um ano e meio. Ver esse trabalho florescer é um privilégio

Jay Horsth – Young Lights

Mendes com Leo Marques na Ilha do Corvo (Instagram)

“Nuances” deve ser ouvido de maneira diferente. Estamos diante de um artista em potencial que certamente irá crescer a ponto de encontrar sua identidade em meio a influências que, por si só, já enriquecem essa escalada. A companhia de bandas irmãs, como é o caso do Chico e o Mar, também serve de espelho para Saulo, que baseia seu processo criativo na troca de ideias. “Quero encontrar meu espaço nessa cena”, afirma.

Produzir com o Saulo é sempre muito bom. Ele consegue transformar as ideias em algo muito real, as pessoas se identificam. Com as gravações, a gente acabou se aproximando e decidimos montar um estúdio pra tabalhar juntos. Com isso a gente foi trocando referências e nos aproximamos muito musicalmente, o que me permitiu entender o que ele queria dizer. Acho que todas as coisas que a gente fez no EP, todos os riffs, os timbres, as melodias vocais e a mixagem a gente pensou em refletir bastante o que ele queria dizer.

Guilherme Vittoraci – Chico e o Mar

2 Toques com Saulo Mendes

Foto: Lucca Mezzacappa

RC: Seu primeiro ep se chama “Nuances”, mas ao mesmo tempo traz 4 faixas cantadas inglês, por que essa dualidade e quais as Nuances você tentou destacar neste trabalho?  

SM: Na verdade, todas as faixas são em inglês. A ideia do nome veio pela forma que eu busquei abordar a música romântica, de maneira menos explícita e com temas adjacentes. Além disso, tem justamente o fato de “Nuances” ser a mesma palavra em inglês e portugues, mudando apenas a pronúncia. Assim posso passar a ideia para diferentes públicos em uma só palavra.

RC: Você tem fortes influências de Wilco, Bon Iver e até mesmo da Young Lights. Você já conhecia essa galera ou passou a conhecer melhor por meio da produção do Jay Horsth? E seu objetivo é enquadrar este ep no amplo segmento folk brasileiro? 

SM: Essas influências são recentes, de 2 ou 3 anos pra cá. Já conhecia antes de começar a produzir com o Jay, mas antes disso eu já era fã da Young Lights e os colocava como uma referência musical também (e são até hoje). Sem dúvidas pretendo me enquadrar mais amplamente no segmento do folk brasileiro, também do indie folk, mais precisamente. Quero encontrar meu espaço nessa cena.

Ouça “Nuances” do Saulo Mendes:

“Nuances” começou a ser produzido em maio de 2020 com a relação artista/produtor conduzida à distância, por videochamadas, em razão da pandemia de COVID-19. As seis faixas que compõem seu primeiro projeto musical foram produzidas com Saulo Mendes gravando em seu quarto a maioria dos instrumentos (algumas gravações foram feitas do estúdio Ilha do Corvo, de Leonardo Marques, e outras no estúdio de JP Cardoso) e contando com a contribuição de outros músicos da cidade que gravaram também em suas respectivas casas e/ou estúdios.

Participam das gravações, além de Saulo e Jay, os músicos Gabriel Bruce, Matheus Fleming, Bruno Medeiros, Gui Barros, Guilherme Vittoraci e Caio Gomes, os dois últimos integrantes da banda Chico e o Mar. Ao longo do processo, Guilherme Vittoraci ingressou na produção do registro, trabalhando em conjunto com Jay e Saulo. A mixagem e masterização é assinada por Pedro Cambraia (Cido).

Ficha Técnica

  • Capa: Marcus Turíbio
  • Produção Musical: Jay Horsth e Guilherme Vittoraci
  • Bateria: Gabriel Bruce e Caio Gomes
  • Pianos: Bruno Medeiros
  • Guitarra: Matheus Fleming e Guilherme Vittoraci
  • Violoncelo: Gui Barros
  • Mix/Master: Pedro Cambraia (Cido)

E aí, curtiu esta estreia do Saulo Mendes? Conta pra nós aí nos comentários!

Marcos Tadeu

Marcos Tadeu

Jornalista, idealizador e apresentador do Rock Cabeça na 100,9 FM, Rádio Inconfidência FM (MG) desde 2016. Acima de tudo, um fã de rock gringo.