Planet Hemp: até a última – e hesitante – ponta em BH
“Chapado de maconha” é um pedaço de letra que nunca fez tanto sentido como no derradeiro show do @planethempbanda em BH: depois de terem sido recusados em duas casas, a banda alinhavou um “sold out” no Mercado de Santa Teresa, e a julgar pela fumaça que tomou conta do ambiente, podemos dizer que os fãs ficaram à vontade com o novo “venue”.
Perguntado sobre o motivo de tantas trocas – e somente em BH dentre todas as cidades da tour de “Até a última ponta” – Ganja foi evasivo: “são vocês de BH que têm que explicar” disse em entrevista pós-show (ver abaixo).
Uma apresentação do Planet Hemp não é simplesmente uma performance de rock e hip-hop. Nunca foi. Ela traz consigo (literalmente) bandeiras, como a Marcha da Maconha. É a causa primeira, mas não a única da banda carioca, que ensaiou gritos de “assassino” ao mencionar o governador Cláudio Castro dada a chacina que resultou em cerca de 130 mortes a pretexto de conter o CV. Diante dessa atrocidade em sua terra natal, será que o timing não estaria errado para encerrar as atividades de uma banda que ainda tem tanto a protestar em suas letras? Ainda segundo BNegão, independente do fim da banda, motivos para reclamar da safadeza das autoridades vigentes nunca vão deixar de existir, “vamos ficar com 95 anos de idade ainda reclamando dessa porra”, brincou.
De nossa parte, além de muito fumo e seda e uma incapacidade dos bares de atender a demanda por cerveja, houve gritos de “Nicolas vtnc” , a despeito da falsa pose de defensor da família e dos bons costumes do deputado federal mineiro. Lembrança de que o mesmo PL que devasta o RJ também causa estragos por aqui.
O Planet Hemp chega ao fim levando com ele uma era de coisas boas como a MTV e deixando pontas soltas como o autoritarismo e a necessidade de combater o tráfico de drogas com a liberalização irrestrita da maconha. Talvez seja esse o motivo do cansaço aparente do Marcelo D2 ao recusar entrevistas e descer pelas escadas do camarim com cara de poucos amigos.
Com ele, um naco da história de resistência do hip-hop brasileiro, graças à banda que fundou ao lado de Skunk e chega ao fim. Os cães continuam a ladrar, mas a caravana nunca vai deixar seus fãs.


