A-ha: a banda que salvou minha vida

A-ha: a banda que salvou minha vida

Confesso: já fui mais, muito mais fã de A-ha do que sou hoje. Mas quando percebo:

    • Todo esse frenesi dos fãs do Brasil inteiro para o show de 30 anos do Rock in Rio neste domingo (27/09),
    • Mais uma longa turnê brasileira (após a turnê de “despedida”),
    • Um novo álbum
    • E, ufa!!!, o relançamento de 3 álbuns clássicos com faixas extras e acabamento de luxo….

…dá vontade de jogar pela janela toda minha extensa coleção do Coldplay e voltar a me deliciar com “Hurry Home” ou, sei lá, todas essas faixas que você infantilmente acredita que é a única pessoa que conhece.

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Quando o A-ha subir ao palco da Cidade do Rock para abrir para Katy Perry (será que daqui a 30 anos ela ainda terá pompa de headliner?), eu sei que não será a mesma coisa. Não será igual ao ano de 1991, um dos shows mais lotados do Rock in Rio de todos os tempos. Naquela época, a turnê em questão era a de “East of the Sun, West of The Moon“, álbum que é uma espécie de A-ha diferente, “erudito”. Desta vez, o álbum na bagagem é o recém-lançado “Cast in Steel” que, embora apresente o padrão de qualidade habitual dos noruegueses, nem de longe bate os melhores momentos de “Early Morning“, por exemplo.

O show de abertura da Katy Perry do A-ha vai enfileirar hits comprimidos em uma hora e meia. Pode ser que a apresentação não tenha o mesmo impacto da que eu assisti pela Farewell Tour em Belo Horizonte, há alguns anos, com o Chevrolet Hall abarrotado de gente louca para ouvir “Take on Me“.  Na verdade, já imagino os jovens se afastando do palco e aproveitando pra comprar uma cerva gelada bem na hora em que Morten entoar “Foot of The Mountain“, uma das canções mais belas que a banda já escreveu, mas que foi incorporada ao repertório tarde demais. Tudo bem, eu entendo…

Morten, o galã do A-ha dos anos 80 (e de até hoje, dirão as fãs ;)), também não será o mesmo Morten Harket  sereno e plenamente acessível da sua turnê solo que não chegou a lotar no país (talvez por que muita gente não tenha ligado o nome à figura). Morten, o ativista, estará desta vez rodeado de fãs e seguranças, entre um sorriso tímido e um falsete, louco por um drink.

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Eu me lembro bem do meu irmão me cutucando dentro do Chevrolet Hall de BH semi-vazio, preocupadíssimo: “Será que o Morten vai topar tocar mesmo com esse ginásio às traças?”. Sim, ele topou e fez um espetáculo quase particular, tremendo profissional que é.  E como se não bastasse ver o ídolo a um palmo de distância, ele ainda anunciou uma pérola no set list: “Out of the Blue comes green”, sim, uma daquelas músicas épicas que, estupidamente, eu achava que ninguém, além de mim, conhecia.

Ouvir o teclado introdutório de “Out of the blue comes green” é como se fosse um link para minha infância. Eu tinha o quê? Uns 9, 10 anos de idade, e sabia todas as letras do A-ha de cor, disco por disco. Tinha, é claro, uma relação afetiva com os “lados-b” : “The Swing of Things“, “This Alone is Love“, “The Weight of The Wind“… Mas não deixava de me emocionar com o VHS mascado de tanto eu usar dos clipes que iam do revolucionário “Take on Me” até “Train of Thought“: “trem dos pensamentos”… Eu começava ali, com as traduções livres das músicas do A-ha, o aprendizado de um idioma que eu nunca mais esqueceria (obrigado também por isso, A-ha!).

Desde o debut “Hunting High and Low“, o A-ha me acompanhou até hoje, com cada álbum me trazendo uma emoção em especial. Os anos passam, me envelhecem e me tiram os cabelos, mas meu coração nunca deixou de lado o que esses 3 caras talentosos fizeram por mim. Afinal, eu, como todo adolescente problemático, não tinha ninguém. Faltavam amigos e sobrava bullying. Em casa, o clima era da insegurança pré-divórcio. Ouvir e reouvir aquela fita cassete bege da Warner de “East of The Sun and West of The Moon“, entretanto, era capaz de interromper o soluço do alma, e a redenção da minha tristeza foi quando escutei “Seemingly Nonstop July” pela primeira vez.

“Nonstop July” talvez tenha sido a faixa que mais ouvi em toda minha vida. Ficava horas no repeat, tentando decodificar as vozes no BG. “Walking by strangers…Strangers than me…”, letras que dialogavam com aquele garoto ansioso e solitário. Letras que, acima de tudo, consolavam. Desde então, o A-ha vem me emocionando sempre que se apresenta ou lança um trabalho e, tenho certeza, eles cometerão tudo de novo na noite deste domingo.

Não se engane, diva Katy Perry! São os 3 noruegueses os verdadeiros headliners desse Rock in Rio 2015 – e um dos protagonistas da minha vida.

Obrigado, Morten, Mags e Paul. E bom show para todos nós! 

 E você, também curte ou vai ao show do A-ha no Rock in Rio? Conta pra nós das suas expectativas!

Marcos Tadeu

Marcos Tadeu

Jornalista, idealizador e apresentador do Rock Cabeça na 100,9 FM, Rádio Inconfidência FM (MG) desde 2016. Acima de tudo, um fã de rock gringo.