Moda e Música com Isa Menta: o legado de Jane Birkin
Oi, gente! Isa Menta aqui começando mais um Moda e Música, o quadro que reúne histórias, indicações e curiosidades dos dois universos no Esse Tal de Rock and Roll. Quem é ligado na moda, com certeza já ouviu falar das famosas e disputadas bolsas Birkin, fabricadas e comercializadas pela grife francesa Hermès. Com mais de 35 anos de história, o item de luxo se tornou símbolo de elegância e sofisticação no meio fashion, tendo sido inspirada em ninguém mais, ninguém menos que Jane Birkin, tema da coluna de hoje.
Jane nasceu em Londres em 1946 e logo em seguida se mudou para a França, onde conheceu o cantor Serge Gainsbourg, com quem se casou. Acabaram ficando conhecidos como o casal mais famoso do país, tanto pelo seu estilo boêmio, quanto pelo seu trabalho em si, já que Serge era considerado um dos ícones da música popular francesa. A estreia de Birkin nos cinemas aconteceu em 1966, quando logo de cara já protagonizou uma cena de nudez frontal no filme “Blow-up – Depois daquele beijo”. Antes disso, iniciou sua carreira atuando no cenário da “Swinging London”, marcada pelo surgimento da minissaia de Mary Quant, da pílula anticoncepcional e de diversas outras revoluções no âmbito cultural, ou seja, Birkin desde o começo sempre esteve ligada aos assuntos que eram novidade pra época. A atriz participou de cerca de 70 filmes, dentre eles “A Bela Intrigante” e “Morte Sobre o Nilo”, tendo ganhado 3 indicações ao oscar francês. Jane se tornou uma figura tão relevante e imponente, que o presidente Emmanuel Macron a definiu como “um ícone francês que encarnou a liberdade e cantou as palavras mais belas de sua língua”.
Numa época em que não havia internet e o interesse e curiosidade dos adolescentes a respeito da temática do sexo começou a existir, Jane e Serge produziram seu trabalho mais polêmico. Expandindo sua atuação artística, Birkin participou da canção intitulada “Je t’aime… moi non plus” e lançada em 1969, que foi censurada em alguns países por ser considerada explícita demais, já que apresentava um clima picante entre o casal enquanto cantavam, com direito a gemidos de Jane e sussurros que simulavam orgasmos em toda a música. No Brasil, por exemplo, a reprodução foi proibida durante a ditadura por motivos óbvios. Durante esse período, em que nem sequer revistas de mulheres nuas eram de fácil acesso, os adolescentes começaram a se interessar pela misticidade que Birkin apresentava e ela mesma mostrou ser de fato uma figura ousada. Serge tentou gravar o som inicialmente com Brigitte Bardot, que aceitou, mas em seguida decidiu proibir o lançamento, alegando que mancharia sua imagem. Jane não só embarcou na ideia, como fez com que mesmo sem entenderem uma palavra de francês mundo a fora, a canção se tornasse um sucesso (o maior) de Gainsbourg.
Na moda não foi diferente. A atriz e cantora ficou marcada por não seguir tanto os modismos de cada época e se apegar em sua própria visão, levando um estilo único que misturava o clássico com o sex appeal. Mesmo sendo de origem britânica, se naturalizou francesa e influenciou o típico modo de vestir parisiense: o mix entre o feminino e masculino, com pouca maquiagem e muita segurança de si. Jane nunca teve a pretensão de se tornar uma referência na moda e isso é o mais interessante, porque mesmo “sem querer” seu nome foi estampado em uma das bolsas mais famosas e desejadas do mundo, como mencionado antes. Tudo começou quando ela encontrou por acaso Jean-Louis Dumas (que nesse período era chefe executivo da Hermès) num aeroporto e sua famosa bolsa de palha acabou abrindo e deixando cair todas as suas coisas, já que esta não possuía fecho. Foi daí, então, que Jane sugeriu ao criador que fosse desenvolvida uma bolsa mais prática e funcional, capaz de abrigar tudo que uma mulher precisasse, principalmente tendo filhos, como era o caso dela.
A reclamação da inexistência de uma bolsa espaçosa o suficiente no mercado fez com que Birkin desenvolvesse um protótipo em um saquinho para enjoo e 3 anos depois (1984) ela fosse lançada. No entanto, inicialmente o acessório não fez o sucesso esperado. Ele só foi atingido de fato após a aparição do objeto na série “Sex in the City”, que estourou na década de 90. Se antes a bolsa custava 2 mil dólares, hoje em dia não é possível encontrar um modelo (por mais simples que seja) por menos de 11,9 mil dólares (o que dá aproximadamente 60 mil reais). O item está disponível em 4 tamanhos, sendo eles o 25, 30, 35 e 40 e nas mais variadas cores e tipos de couro. A Birkin se tornou tão clássica e cobiçada que uma de suas versões mais caras, adquirida pela Kim Kardashian, vale em torno de 2,1 milhões de reais por ser feita com a pele de um crocodilo e cravejada com diamantes.
Sua produção minuciosa e rigorosa garante que uma bolsa da Hermès seja literalmente um objeto de coleção, com um número limitadíssimo disponível para compra. A marca apresenta um sistema bastante curioso do ponto de vista das vendas, já que não somente a conta bancária é levada em consideração para que alguém possa adquirir uma Birkin ou Kelly (outro modelo), mas principalmente o relacionamento de seus clientes com a grife. Um dos princípios da empresa de luxo é manter a valorização de todos os seus produtos, portanto, só quem já é comprador assíduo consegue adquirir os dois modelos mencionados e olhe lá. Os critérios estabelecidos e levados em conta para que uma pessoa tenha uma bolsa liberada para compra ainda são um mistério, tanto que é mais comum do que parece um cliente ficar por anos na lista de espera e nunca conseguir ter uma Birkin para chamar de sua. A Hermès também tem um sistema que envolve um serviço de manutenção e reparos vitalício, sendo possível repassar as bolsas de geração por geração e ter seu preço aumentado a cada vez que isso ocorre. Tudo isso alimenta ainda mais o valor da marca e torna ela tão cobiçada como é.
Jane Birkin também esteve envolvida em outros momentos importantes, como em cenários de ativismo e luta pelos direitos das mulheres, da comunidade LGBTQIA+ e dos refugiados. Carregava tanta personalidade consigo que chegou a pedir para a Hermès retirar seu nome das bolsas produzidas com pele de crocodilo, por não compactuar com a produção ligada a animais. Infelizmente a atriz, cantora e ativista faleceu no dia 16 de julho desse ano, mas sua trajetória foi e ainda é notória. Serviu de inspiração não só para a marca e para a música, mas para outras atrizes e mulheres do meio artístico, como a atriz Camille Rowe, que possui um visual bem parecido com Jane mais nova. Sem dúvidas, é uma grande perda para o cenário musical, fashion e cinematográfico.
E você? Já sabia de todo esse legado deixado pela Jane Birkin? Me conta lá no instagram @isaamenta, eu sou a Isa Menta e esse foi mais um Moda e Música, o quadro que reúne histórias, curiosidades e indicações nos dois universos aqui no Esse Tal de Rock and Roll. Obrigada e até a próxima!